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terça-feira, 13 de abril de 2010

29 - Acaudilhado por um Sonho

Estou preso, inerte, neste sonho,
Um verdadeiro manicômio,
A me corromper a mente,
Destoando o que me há de decente.

Estou a sofrer com este caudilho,
Me desfaço em seu profundo martírio,
Qual promíscuo campo que semeio,
Sem saber para que me veio.

Vem-me a terna lembrança,
Da vistosa infância que tive;
Agora, já em púbere idade,
Não tenho mais toda aquela lambança.

Só me resta este adormecer profundo,
Sono que não me desperta nem por um segundo,
Nem pelo decreto já profetizado,
Serei agora libertado, sorteado.

Só me resta o desejo desta carta,
Que minha manidestra tece, sorrateira,
Luxuriamente ao sono destoado,
Então irei servir de mártir.

Ainda me resta a mente farta,
Imagino a prece mais bisbilhoteira,
Ir ter com o caudilho entronado,
Orar ao seu Espírito Santo.

Terei tempo ainda de ver brotar,
Do campo semeado com amor,
Um anjo de mais puro verbo amar,
A vir me tirar mais esta dor.

Como sofro com este sono, este sonho;
Transtornado, amargurado me sinto,
Por mais que pesadele pouco, muito pouco,
Sinto na boca este gosto de absinto.

Este pesadelo torna-se a cada dia,
Um verdadeiro abrolho para minh'alma sofrida,
Já não consigo mais nem parar em pé direito,
Com o corpo tão atravessado, teso, ereto.

Já não sei mais o que faço,
Deste sonho indigesto, duro,
Não sei mais como meço,
As letras a formar meu verbo.

Queria ter por mais uma vez,
Por puro, lírico prazer,
A nudez da palavra fina,
Descrever o que me assenta.

Mas não sei se conseguirei,
Ao menos terminar mais esta página,
Não sei mais se ainda sonharei,
Meus alvos sonhos da infância.

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