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quinta-feira, 6 de maio de 2010

49 - Chaturanga

Chaturanga, jogo bem faceiro,
Idolatro desde meu nascimento,
Este jogo sublime, tão maneiro,
Dele sou idólatra costumeiro.

Já nem sei em quantas partidas,
Usei tão incrível tabuleiro,
São jogadas muito bem sortidas,
As deste jogo amigo, companheiro.

Jamais quero perder este vício,
Dentro do qual vivi e me criei,
Ao jogo mando um doce beijo,
É um jogo em que sempre tombarei.

Tombo Rei, Dama, Torre, Bispo, Cavalo,
Tombo até meus oito Peões com jeito,
Não quero me curar, abandonar o vício,
Amo este notável jogo, sempre o alimento.

Chaturanga, sinônimo e arquétipo indiano,
Do notável, famoso jogo de xadrez,
Tu és de minha alma o meridiano,
Vou te jogar mais outra vez.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

48 - Violado

Estou hoje violado,
E não falo de música,
É de um ato consumado,
Que a todos fustiga.

Tantas brigas já se foram,
Ao redor deste conceito,
Deste jeito que me tratam,
Só por aparentar ter jeito.

Não sei como agüento esta vida,
Este preconceito tão danado,
Isto é uma verdadeira sina,
Querem me tornar amaldiçoado.

Não se apercebem, os demais,
Que a genética me tornou assim,
Não adiantam preconceitos tais,
Os mesmos não irão a isto pôr fim.

Porque não aceitam de uma vez,
Que eu tinha mesmo de vir assim,
Ser este meio termo desta vez,
Este vivente andrógino, enfim.

Ter, por natureza, as duas partes,
Não é maldição, é benção,
Pois assim entendo melhor as duas metades,
Sou tanto a Eva quanto o Adão.

Não vejo mal algum em ser isto,
Que muitos errôneamente nominam,
Me tornando indíviduo malquisto,
Por eu ser assim, não se agradam.

Se fazem de valentes, machões,
Porém não percebem o mal que fazem,
À esta sociedade já cheia de valentões.
Quantos preconceituados já não jazem?

Julgam como adesão a uma classe social,
Diferente da deles, a quem tenha esta sina,
Ninguém escolhe nascer sofrendo deste mal,
O que nos torna assim é esta dona, a genética.

E nós, andróginos, é que somos os culpados,
Por ter membro inferior masculinizado,
Em corpos musculares destarte afeminados?
Não temos culpa, é somenos o nosso enfado.

Porque não podem aceitar a idéia,
De que nós vivemos este meio têrmo,
Sou tanto um cavalo quanto uma égua,
Minha genética faz-me ser deste meio.

Não sou obrigado a curtir estupros,
Só por ter assim nascido, crescido,
Eu tenho à-cá os meus escrúpulos,
Sou ente desta vida bem vivido.

Não sou o que pensam a meu respeito,
Esta dor muito me enoja e magoa,
Ser condenado só por ter trejeito,
Este mesmo que sempre desponta.

Namoro sempre com mulheres, gosto delas,
Não tenho obrigação de namorar com homens,
Só por pentencer às duas metades humanas,
Mas mesmo assim chegam sempre estes vis.

Vis a me preconceituar, não me aceitam como sou.
Que culpa tenho de ser homem e mulher ao mesmo tempo?
Cheio de ódio, rancor, mágoa, é como estou,
Deste ser humano que é hipócrita a todo momento.

Ter cabeça masculina, usar cabelo curto,
Mas uma bunda feminina, faz a meu corpo,
Uma singular companhia, sou tanto um como outro,
Vivente a viver duas almas em um só corpo.

Por favor, entendam uma coisa:
Serei assim até a eternidade,
Com genes desta singular feita,
Este problema não escolhe idade.

Não quero mais passar por este preconceito,
Tão danado, vil, amaldiçoado e esculhambado,
Não sou promíscuo pra gostar deste preceito,
Muito menos gosto de ser por vós esculachado.

Por que não vão caçoar de quem têm em casa,
A mãe de cada um, por exemplo,
Garanto que esta ficaria enfezada,
Não iria gostar deste preconceito.

Enfiem este maldito estupro no próprio rabo,
Do mesmo, não preciso neste caro momento,
Não gosto nada deste conto real enfabulado,
Pra mim, este é um notório sórdido tormento.

Sim, sou andrógino, pansexual e pangênero,
Porém, não suporto esta infantil delinqüência,
De quem age com este vil e tolo preconceito,
Não me dá nem vontade, por vós, de ter clemência.

Porém peço clemência mesmo assim,
Quem sabe com clemência vós aprendeis,
A ter respeito ao próximo, enfim,
A não ter esta soberba outra vez?

domingo, 2 de maio de 2010

47 - Térmita

Eita bichinho comilão,
Este tal térmita,
Parece mais um glutão,
A devorar madeira.

Esta poesia que agora deixo,
Espero que te alimente o bucho,
Pra deixar de lado teu desejo,
De consumir meus móveis, bicho!

Sei não, este bichinho é danado,
Manda ver nas madeiras de casa,
Nada escapa do térmita folgado,
Principalmente quando abre tua asa.

Abre asas e sai voando,
Pra consumir até mesmo telhas,
Bate-te a fome até mesmo quando,
De bucho cheio, satisfeito, tu já estás.

Come telha, tijolo, madeira,
Não deixa nada para trás,
Não deixa a mínima madeixa,
É mais glutão que muita traça.

O que fazer com móveis atacados,
Por este bichinho tão traquinas?
Ninguém se garante contra estes danados,
Deles, todas as casas estão cheias.

Térmita, tua fome voraz assombra,
Até quem é cheio de soberba,
Come desde quando o sol desponta,
De tudo quanto é de madeira.

Tua fome insaciável, quando chega,
Te faz comer até mesmo uma casa inteira,
Quando atacas em colônia, então,
Sei que comes até tacos do chão.

Quando ficarás satisfeito, pirralho?
Eita, tu és bichinho bem danado,
Não assusta-te nem com dente d'alho,
Come tudo que encontra dum só trago.

sábado, 1 de maio de 2010

46 - Solidão

Minh'alma jaz agora solitária,
Curtindo desenfreada este momento,
Não tenho nenhuma parafernália,
Que me cure todo este vil tormento.

Tormento precoce, torpe e vil,
Tirou o ânimo que outrora senti,
A cápsula com forte cheiro de fel,
Levou todo o amor que antes senti.

Saibam todas as pessoas,
Deste meu grande segredo,
Queimar arquivos e roupas,
Não calará o meu lamento.

Espero por justiça ainda,
Espero que esta venha um dia,
Esta flâmula ainda infinita,
Logo terá o término de tua via.

A flâmula que agora ergo,
Carregarei por toda minha vida,
Até o bosque mais ermo,
Viverei pra recuperar minh'alegria.

Quero que todos saibam um dia,
Nunca me calarei ante ao fato,
Qual foi o grande amor de minha vida,
Ainda vive o feto por nós consumado.

Espero um dia reencontrá-lo,
O homem a quem quis dar alento,
Ainda poderei um dia novamente amá-lo,
Dizer que te amo a todo elemento.

Não te esqueças, meu filho,
Jamais pude ver tua face,
Brincar com meu ente querido,
Brindá-lo com meu maior enlace.

Clamo que a justiça seja limpa,
Que faça jus ao nome que tem,
A tua alma jaz homicidada,
Mas terá minha benção até no além.

Meu filho, meu prodígio,
Te amo como jamais a ninguém,
Tu és meu filho solícito,
Tua alma vive agora toda zen.

Espero que volte a mim um dia,
Que me arranque novamente suspiros,
Que me dê força, amor e alegria,
E que não te matem mais os tiros.

Quando voltares, filho querido,
Saberás o quanto te amo, te aprecio,
Gostaria de ter tua companhia,
A me dar ternura e sabedoria.

Esta sabedoria natural de um infante,
É tudo o que tu me ofertarias, bambino,
Porém a receberia com prazer cativante,
Tu és meu afeto, amor, és o meu menino.

Teu sexo é o mesmo que o meu, masculino,
Mas isso não irá me impedir de te amar,
Meu amor por ti é levado ao infinito,
Quero contigo o verbo amar conjugar.

Espero poder ter a linda chance,
De me tornar fisicamente teu pai,
Mesmo que seja uma breve nuance,
O que não posso é viver este ai!

Um ai! de solidão não agüento,
Não posso mais viver assim,
Não suporto este lamento,
Te quero para meu amor sem fim.

Te quero como quis tua mãe, te ter,
Dar-te afeto, ternura, paixão sem conta,
Quero idolotrar teu infinito ser,
Até onde a tônica do amor desponta.

Volta, filho pródigio, estou só,
Sem tu, sem tua mãe, sou Zé-Ninguém,
Me assemelho à mais crua pedra mó,
É chato não mais amar alguém.