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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Terror

Era uma noite como outra qualquer. Abelardo estava como sempre deitado em sua cama, lendo um de seus livros prediletos: "A Hora da Zona Morta", de Stephen King. O que Abelardo não sabia era que aquela seria sua última noite com vida... O relógio já marcava meia-noite e Abelardo ainda acordado, absorto em sua leitura, sem conseguir sentir um pingo de sono. Para ser franco, Abelardo sequer sabia que horas eram. Não tinha relógio de pulso e um grandão, de parede, tipo relógio cuco, estava quebrado há décadas. Abelardo nem se importava, afinal aquele relógio cuco havia pertencido ao seu bisavô. Herdara-o como herança de seu avô, já quebrado, sem conserto, mas ainda assim o guardava. O valor sentimental falava mais alto, já que os pais de Abelardo morreram inexplicavelmente quando ele tinha apenas 3 anos. Abelardo foi criado desde então pelo único parente vivo que restara de sua família: seu avô paterno Luis. Entretanto, Abelardo não se perdia quanto ao tempo, já que morava a apenas duas quadras de uma igreja. Se orientava por este relógio, o da igreja. Aquela noite porém seria diferente. Já estava sendo diferente, já que os relógios de igrejas costumam badalar à meia-noite. Desta vez, o relógio da igreja não badalou. Padre Calixto estranhou: - Ué, o badalo do sino nunca falhou. Sempre foi uma sincronia perfeita com este relógio. - pensou - Preciso ir até a cidade chamar um técnico amanhã cedo. Sim, cidade. Abelardo e Padre Calixto residiam em Primavera, distrito de Rosana, interior paulista. Primavera tinha na época cerca de 10.000 habitantes. Abelardo e Padre Calixto eram apenas dois deles. Um outro curioso habitante de Primavera também não estava conseguindo dormir naquela fatídica noite de primeiro de maio de 2013. Ou melhor, outra. Flávia tinha cabelos longos, levemente cacheados, castanho-escuros, olhos igualmente castanho-escuros, pele bronzeada, além de um corpo bem curvilíneo. Era uma morena de parar o trânsito. E o coração. Sim, Flávia também estava acordada. Flávia nunca dormia, já que tinha uma particularidade que nossos ilustres Abelardo e Padre Calixto desconheciam. Padre Calixto aliás nem chegaria a tomar conhecimento desta particularidade de Flávia, uma vez que estava já se recolhendo para ir até o centro de Rosana no dia seguinte, onde conhecia um bom relojoeiro, o mais capacitado da região para consertar o relógio da igreja, na opinião de Padre Calixto. Abelardo porém não teria tanta sorte... Flávia, como que tomada por um inconsciente impulso sonambúlico, apesar de acordada, ia caminhando toda noite a procura de suas habituais vítimas, os gatos de rua. Flávia os matava e consumia seu sangue, tal qual os vampiros costumam fazer. Ela não deixava sobrar nada. Aquela noite porém seria diferente, Flávia obteria pela primeira vez desde que fora transformada em vampira sangue humano, e seria de Abelardo. Não se apercebendo nem da hora nem do que estava para ocorrer, Abelardo continuava absorto em seu livro de terror, como que um jogador inveterado que não larga o pôquer. Começara a ler "A Hora da Zona Morta" naquela noite mesmo, como forma de conter sua insônia, e já estava quase passando da metade do livro. Abelardo sequer sabia a quantas horas seguidas estava lendo. Eis que de repente escuta o som de seu relógio: "cuco, cuco". Levantou-se sobressaltado pelo susto, há décadas o relógio estava sem funcionar e, como que tomando uma lufada de ar, encheu-se de coragem e foi até a cozinha ver o que estava acontecendo, e se descobria o porquê do relógio ter voltado a funcionar depois de tanto tempo. Abelardo nunca tinha ouvido seu som; aliás, já estava quebrado na casa de seu avô quando tinha 3 anos e estava sendo criado por ele. Aquela foi a última vez que Abelardo viu a Lua da janela de sua cozinha. Quase que instantaneamente à sua chegada, Flávia pulara em seu pescoço e lhe dera uma dentada tão forte e violenta na jugular que sua cabeça foi por completo decapitada. Quando o dia amanheceu e os vizinhos perceberam luzes acesas em pleno dia de dentro de sua casa e junto um forte odor de putrefação, imediatamente acionaram a PM. Era tarde, os policiais que registraram a ocorrência já encontraram um Abelardo sem vida, decapitado e com os olhos esbugalhados. Não havia marcas de luta além das marcas de dentes caninos em várias partes de seu pescoço e menos ainda sinais de arrombamento nas portas de acesso à casa. Abelardo estava também seco, sem uma só gota de sangue no corpo...

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